Capa Bidate de Koroturna.

Bidate está vindo pra socar a cara dos tulrukolis, mas a história vai muito além disso

Resenha do livro Bidate de Koroturna, de Dilson Vargas-Peixoto

Paulo Moreira

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Não há paz no continente de Grim. É o que o livro nos apresenta logo no comecinho, quando Koroturna é invadida pelos terríveis tulrukolis, povo que adora os deuses do sofrimento e escraviza outras espécies. O caos é o lugar perfeito para os heróis se manifestarem, e é justamente o que acontece com Bidate que, ainda pequena mas com uma força de vontade para lutar nata, tenta proteger seu povo a todo custo.

No entanto, diferente dos heróis comuns que são bem sucedidos, Bidate falha. Só há uma única opção para ela: fugir. E é aí que sua jornada começa, de maneira tão atípica.

Eu prezo muito personagens que enfrentam dilemas logo no início de suas histórias, ou pelo menos, da história que está sendo apresentada. Isso demonstra que o passado do personagens sempre existiu, que o background foi trabalhado pelo autor mesmo que não revelado de forma tão clara.

Bidate quer lutar, mas não pode, em parte porque os tulrukolis são fortes demais, em parte por causa das restrições de sua sociedade, onde a luta não é para mulheres. E também pelo instinto de sobrevivência. Todos esses dilemas e falhas já nos insinuam que a jornada de Bidate não será uma jornada que estamos tão habituados a ver e ler, que a história aqui vai ser diferente, extraordinária no sentido de que fugirá do ordinário, do comum, dos heróis comuns.

Ela tem o arquétipo de guerreira, é violenta, movida por vingança, mas também protetora, que almeja a liberdade dos outros e de si mesma. Como a deusa grega Ártemis, ou Xena, e até mesmo Musashi e Thorfinn de Vinland Saga, Bidate é uma lutadora.

Chamo a atenção para Musashi e Thorfinn, pois os dois compartilham muita coisa da jornada de Bidate. Bidate não é sobre redenção como Musashi e Vinland Saga, nem caberia ser, pois Bidate não é tão cruel como os protagonistas dessas obras.

Ainda assim, as três histórias se apresentam com violência, os próprios personagens recorrendo a ela para lidar com seus conflitos, para depois os personagens crescerem, ganharem mais profundidade, aprendendo outras formas de enfrentar os mesmos desafios, algumas até mesmo desprezadas pelo orgulho.

As três histórias são sobre se transformar e transformar o mundo sem perder aquilo que queremos ser.

Libertar-se de si mesmo para libertar os outros.

Mas Bidate não se tornaria Bidate sem o mundo no qual ela vive, um mundo trabalhado aos detalhes, com fauna e flora específicos. É tudo tão real, tão possível de existir, mas ao mesmo tempo encantador, fantástico.

Deuses se mesclam à natureza, florestas têm histórias e são inspiradas na América do Sul, civilizações fogem do padrão europeu medieval, todas as criaturas não são humanas e mesmo assim capturam nossa simpatia, há idiomas próprios e contos escritos pelos próprios personagens para nos mostrar como os habitantes desse mundo veem o próprio mundo. Qualquer um que curte mundo fictícios vai adorar Bidate.

Não falei sobre magia, tão comum em livros de fantasia, porque em Bidate, questões místicas, ou espiritualidade, não é tão óbvia na primeira parte — como disse, a jornada de Bidate é atípica. Ela vai aparecer em momentos chave pra te deixar mais curioso, mas só vai alavancar mesmo lá para a metade do livro, quando um acontecimento em especial muda o rumo da história.

Pra falar da magia, eu teria que citar alguns spoilers, o que poderia acabar com a experiência dos leitores. E eu quero que você fique com o queixo caído quando acontecer, como eu fiquei.

Não ignore essa jornada, pois ela diz muito sobre heróis reais.

Se você gosta de novos mundos, ou melhor, de novos heróis, leia Bidate de Koroturna.

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Paulo Moreira

Brazilian pharmacist in loved with History, Fantasy and Ecofiction. Author of The Blood of the Goddess. I write about nature in poems and fantasy stories.