Na Gaiola do Tigre
Uma menina de olhos dourados encontra dois fantasmas em um poço
Sinopse
Lyang é uma garota de olhos dourados que vive presa na Gaiola do Tigre, uma cidade murada marcada pela repressão e autoritarismo. Sua irmã, à beira da morte, lhe faz um último pedido: buscar a água que precisa para matar sua sede. Mas nem todos têm direito à água na Gaiola, e Lyang acaba recorrendo a um poço envenenado escondido na sombra da muralha. Diante do poço, a menina de olhos dourados encontra dois fantasmas capazes de realizar seu desejo sombrio e mudar o rumo da história.
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A Gaiola do Tigre era uma cidade de gemidos e odores que o vento não conseguia separar. O gemido das minas, por exemplo, fedia a suor e carvão; o dos prostíbulos tinha certo perfume, forte demais e embriagado pelas bebidas. Aqueles com cheiro de sangue eram os mais comuns, vinham de qualquer parte e, mesmo assim, podia-se descobrir facilmente a sua origem. Gemidos sangrentos com cheiro de barro eram sempre dos becos escuros; os que se perdiam na doçura inebriante de chás eram os das casas de cirurgia, porque os médicos sempre tentavam disfarçar o odor; e os mais pesados, que carregavam sangue, ferro e fogo, os que surgiam de uma hora para outra e se arrastavam pelas ruas apertadas da gaiola, esses eram os do Tigre, do Tigre Branco do interior das muralhas.
Ainda havia um outro gemido, suave, discreto, o único sem cheiro, o mais triste. Aparecia a todos, dessa vez em um bar, lá em baixo, nas sombras sufocantes de um porão, diante da menina de olhos dourados.
— Água, irmã… Água.
Em resposta, a menina virou o potinho de barro. Não havia mais nenhuma gota. Deitada na cama de palha, a irmã esticou o pescoço e lambeu os lábios rachados.
— Sinto muito, Lyang. Era pra nós duas, não era?
Lyang, sentada em seu banquinho, não respondeu. A chama da vela tremia ao lado da cabeceira, iluminando a testa suada da irmã.
— Acha que consegue mais? Só mais um pouco…
Ela fez sinal para que a menina chegasse mais perto. Cochichou em seu ouvido: — Ele gosta de mim, o general. Eu sinto que gosta. Você vai entender quando for mulher. Ele vai nos tirar daqui. Está tudo planejado, só precisamos esperar.
Lyang se afastou, mordendo os lábios. Por um segundo, a vela oscilou. Por um segundo, foram entregues às sombras.
— Que bom, minha irmã. Que bom.
A pequena garota de olhos dourados pegou o balde e deixou a irmã. Sabia aonde tinha de ir. Subiu as escadas, correu por baixo das mesas do bar e saiu pela janela da cozinha. Sobre os telhados vermelhos da gaiola, a muralha cinzenta a observava em seu percurso, quieta, atenta.
Lyang foi bater na porta da casa da Sra. Bai. Os gemidos de lá tinham cheiro de leite.
— Ela piorou, não foi? — Sra. Bai era assim, sempre sabia das coisas. Não pediu para que Lyang entrasse, ficou no meio da porta como uma estátua gorda marcando a fronteira. Os bebês berravam lá dentro. — Sinto muito, querida. Eu queria ajudar, mas não tenho mais cartão algum. Você usou o meu último, não lembra? Também já estamos sem uma gota, e temos recém-nascidos aqui.
Lyang abaixou a cabeça, apertando o balde cada vez mais forte. Parecia pesado demais, mesmo vazio.
— Olhe, querida, por que não procura o doutor Dalam? Ele deve ter água e é uma boa pessoa.
A menina de olhos dourados forçou um sorriso e agradeceu a bondade da Sra. Bai. O doutor ajudaria com certeza. Tentara tratar sua irmã, e sempre atendia os mendigos e crianças da gaiola. Mas antes, Lyang precisava tentar algo uma outra vez, então foi correndo pelas vielas fedidas até o poço mais próximo.
Os poços eram os pontos com mais odores na cidade, principalmente durante as manhãs. Carvão, suor, leite, álcool, perfume, pães, tudo se misturava em uma sopa barulhenta de gente. A fila naquele dia ultrapassava três esquinas, mas todos tinham olhos dourados e se apiedaram da pequena Lyang, cedendo a frente.
Um guarda conferia os cartões, suas vestes brancas resplandeciam no meio da multidão. O companheiro estava distraído, sentado em uma caixa de madeira ao lado do poço. Desenhava algo na areia com uma faca, mas sorriu para Lyang quando ela se aproximou.
— Cartão. — o outro lembrou. Tocou o cabo da espada como aviso.
— Senhor, a minha irmã… — ela balbuciou. O balde pesava mais e mais em suas mãos.
— Cartão! — adiantou o guarda.
— Ela está doente. — Lyang abaixou o rosto. Não podia encará-lo, seus olhos impuros acabariam sujando a brancura daquelas vestes.
Algum rapaz da fila quis ajudá-la: — É a Srta. Caia, senhor! Ela está muito doente. A pobrezinha da irmã só veio pegar água.
— Cartão! — o guarda insistiu, puxando um pouco a espada. O aço faiscou a luz pálida do sol.
— Use o meu, menina. Eu lhe empresto.
— Cartão! Dela!
— Ei, ei! — o guarda sentado interrompeu, ainda com a faca no chão. — Muita gente costuma pegar água nos poços da muralha. A água deles é muito boa para velhos, mendigos… ou alguém como sua irmã. Tem água de sobra lá.
Os olhos dourados da menina arderam. Ela tentou conter os soluços, mas não conseguiu. Saiu correndo. Jamais mostraria suas lágrimas a um tigre branco.
Ainda havia o doutor Dalam para recorrer, assim, a pequena Lyang enxugou as lágrimas em um beco escuro e andou direto à casa de cheiro de álcool e chás com o sol subindo à sua frente. Naquele dia, haveria também cheiro de queimado, de carne queimada.
A clínica ficava logo no limite do bairro pobre, dessa forma, a menina de olhos dourados teve que desviar de três guardas que faziam ronda nas ruas. Ela os odiava. As vestes brancas não tinham nada de pureza ou bondade.
Lyang teve mais uma surpresa desagradável em suas andanças. Ao chegar na clínica, uma aglomeração de adultos não a deixou passar. Barravam a entrada, murmuravam uns com os outros. Estavam tão juntos que dificilmente Lyang passaria entre eles, mal foi capaz de identificar o que olhavam. Ela até tentou se espremer ali dentro, mas uma senhora a empurrou para trás.
— Vá pra casa, garota! É o tigre, ele esteve aqui.
A menina segurou o balde ainda mais forte. Espiou as paredes da clínica à procura de alguma janela. Os curiosos cochichavam: — Vejam os pés. Foi o tigre, não há dúvidas.
— Como puderam fazer isso? Ele não fazia nada de mau.
— Exatamente. Ele não fazia nada de mau.
Lyang correu para os lados da casa e encontrou uma janela aberta. Em um salto, já estava dentro da clínica, procurando e cheirando todos os líquidos que encontrava. O doutor Dalam fazia questão de deixar sua sala o mais limpa possível. Nenhum grão de pó deslizava na luz da manhã, nenhuma teia cintilava sob a mesa dos pacientes. Se tudo era tão limpo, com certeza havia água em algum lugar.
Na estante lustrada, as plantas medicinais dividiam espaço com potes e saquinhos de tempero. A menina procurou o que queria, mas só encontrou garrafas de vinho com líquidos que fediam muito. Acabou se deparando com um pão velho caído ao lado de uma cadeira. Comeu-o sentada no chão, logo embaixo da janela pela qual entrou, para ninguém presenciar o crime, embora dificilmente aquelas pessoas dessem uma espiada para dentro da clínica, tão entretidas lá fora. O pão seco sugou toda a saliva da boca, mas ela não se arrependeu de ter comido.
Observou o armário diante dela, na parede oposta. Sob ele, havia uma bola de papel amassado. Não fazia sentido em uma clínica bem cuidada como aquela. Ela levantou-se e dirigiu-se ao armário, seu último recurso. Foi aí que reparou algo diferente. No meio da sala, o piso chegava a ranger baixinho, afundava um pouco. Talvez fosse um porão.
Lyang ignorou o fato por um tempo, curiosa em saber o que havia naquele papel. Tirou-o de baixo do armário e desamassou-o. Tratava-se de um desenho simples, não tão difícil de produzir, um círculo dividido em duas partes, uma preta e outra branca. A menina o conhecia, assim como todos do bairro pobre: Guan-Hin, O Símbolo da Verdade. Guan era a metade preta, com um pequeno círculo branco em seu interior. Hin, por sua vez, era a metade branca, com um pequeno círculo preto.
Letras foram rabiscadas ao redor do desenho, e, embora Lyang nunca tivesse aprendido a ler, ela sabia o que significavam.
Há uma sombra na luz, e uma luz na sombra.
A menina fez questão de amassar o papel novamente. O tigre era a luz escurecida em suas vidas, mas a sombra iluminada jamais aparecera. Talvez nunca aparecesse.
O burburinho lá fora começou a diminuir. Foi bom Lyang ter percebido, ela correu para o meio da sala onde o piso afundava. Encontrou uma minúscula aldraba e puxou-a com força. Era realmente um porão, e melhor, cheio de barris.
No entanto, o burburinho dos curiosos cessou-se por completo, impedindo-a de descer pela escada de madeira. Seu balde estava próximo à janela aberta; do outro lado da janela, não havia ninguém. Ainda assim, alguma coisa havia emudecido todo mundo.
Lyang poderia ter reagido de três formas diferentes naquela situação: caso se entregasse à curiosidade, iria para a janela dar uma espiada; caso se entregasse ao medo, se trancaria no porão e o balde ficaria fora; e caso se entregasse à sorte, ficaria parada esperando tudo passar. Nenhuma dessas opções salvaria a sua irmã, então, só correu como uma criança qualquer. Deixou o balde, saltou a janela. Foi embora sem olhar para trás. Ainda assim, conseguiu notar o motivo para tanto silêncio, porque a luz branca de um guarda não é difícil de ser notada.
A luz branca a viu também e seguiu-a mais uma vez.
Lyang correu o máximo que pôde. Saiu das ruas e disparou sobre as planícies vazias anteriores à muralha enquanto o sol subia ocioso no céu. O capim fazia suas pernas coçarem, o cheiro de mato avermelhou seu nariz. Apesar disso, continuou correndo para longe das armaduras esmaltadas, das bandeiras resplandecentes, para longe das garras do Tigre Branco. Era uma criminosa agora, pior, era uma criminosa de olhos dourados. Não queria ter seus pés queimados. Como levaria água para a irmã?
Mas aquela cidade era uma gaiola. Não importava para onde fosse, o tigre sempre a farejaria.
A menina passou por uma cabana de madeira à sombra da muralha. Um velho de pernas quebradas a observou, sentado no chão da varanda, curioso. No entanto, quando Lyang implorou por água, ele permaneceu imóvel, quieto. Os cabelos brancos entupiam seus ouvidos, talvez fosse surdo afinal. E ali, ao lado da cabana, sob a sombra fria dos muros, havia um poço.
Lyang não podia ignorar.
Lyang não tinha opção de ignorar.
O poço era antigo, com gravuras perdidas nas pedras da amurada. O capim era tão alto que quase o cobria, escondendo-o de olhares desatentos. Sobre ele, um balde amarrado com uma corda esperava a chegada da menina.
Lyang agradeceu baixinho à Deusa Humilde, pediu desculpas pelos crimes daquele dia, puxou o balde e espiou a escuridão asfixiante do poço. Ele fedia, fedia tanto que Lyang caiu para trás. Parecia alho, ou melhor, ovo podre. Mas havia um brilho lá dentro, ela percebeu, certamente de água.
Uma luz branca se aproximou. Se Lyang não estivesse na sombra, mal a teria percebido. Era o guarda de novo, o mesmo da clínica do doutor Dalam, o mesmo da caixa de madeira. Ele parou à frente da cabana. O velho o observou, ainda quieto.
Lyang quase chorou outra vez. Ela podia ter corrido, mas agora não tinha opção de correr. Então, decidida, segurou a corda do balde, dirigiu-se ao poço fedido e… parou para ouvir. Sim, ouvir. Alguma coisa respingava na água entre sussurros apressados:
— Não lamba os lábios, ouviu? Não quero você morto ainda.
— Psiu! Olhe! É uma garota, ela não vai nos ver. Quieta!
Duas luzes piscavam lá no fundo, duas máscaras brancas em vestes negras: um javali e um cachorro. Lyang não precisou escutar mais nada. Eram os fantasmas. Os fantasmas haviam penetrado a muralha!
O guarda avançou, mais rápido, amassava o capim com suas botas. Os fantasmas se abaixaram. Lyang, lutando para conter o sorriso nos lábios, levou o dedo indicador à boca. Esticou-o:
— Fiquem aí!
Aviso dado, as sombras dissolveram-se na parede do poço. Lyang segurou o balde e arremessou-o em silêncio. Tirou água despreocupadamente e se afastou do poço. Desamarrou a corda, de cabeça baixa para o guarda não ver seus faiscantes olhos dourados, nem seu sorriso.
O guarda parou diante dela, olhou-a irritado. Chutou o balde para longe. A água podre deslizou sobre os cogumelos do poço, sempre em frente.
— Menina burra!
Ele correu até o balde e gritou na direção da cabana: — Ei, velho! Você tem água aí, não tem? Encha esse balde!
O velho levantou-se.
— Sim, senhor! Espere um pouco, por favor.
Dito isso, entrou na cabana.
A menina permaneceu imóvel ao lado do guarda, era certo de que se o encarasse, seus olhos seriam queimados com tanta brancura. Sob os pés dos dois, a terra ia sugando a água podre bem devagarinho.
Lyang ficou surpresa com a força do velho quando ele veio trazendo um barril. Ela podia ter comentado, mas não, tinha escolha ali, então só observou-o encher o balde e voltar para a cabana. O guarda chutou a terra molhada.
— Vá! Já perdeu tempo demais.
Lyang carregou o balde em seu peito como se segurasse um recém-nascido enquanto voltava para a cidade. A água era límpida, sem cheiro algum, como toda água devia ser.
Chegou ao meio-dia no bar, mas o dono mal reclamou do sumiço, tampouco mencionou repor as horas perdidas. Só deu uma espiada triste pelo canto do olho quando Lyang desceu as escadas do porão.
A menina de olhos dourados não se importou em acender a vela apagada. Deixou-se afogar no lago escuro, respirou fundo, sentou-se ao lado da cama em seu banquinho e molhou os lábios rachados da irmã. Esperou que agradecesse. Quando os olhos enfim se acostumaram à escuridão, observou aquela face que repousava em silêncio. Sua pele brilharia se não houvessem tantas feridas.
Assim, Lyang encharcou um pano e começou a limpar a pele machucada. Talvez as manchas se dissolvessem com uma água tão pura. Chegou a esfregar um pouco. A irmã não reclamou, nem agradeceu.
Em nenhum momento, o dono do bar apareceu no porão para chamar a menina de olhos dourados.
E quando a noite caiu, a menina de olhos dourados chorou.
Seus gemidos e soluços afastaram os clientes. E aí sim, o dono apareceu para se desculpar e empurrá-la para fora, para a noite gelada e fedida das ruas.
Lyang acocorou-se em um beco escuro, longe das lâmpadas amarelas e vermelhas da cidade, longe de todos os vivos. Nenhum brilho de ouro faiscaria em olhos com tanta água. As pernas latejaram, rígidas como madeira. A menina então sentou-se com as costas contra os tijolos do muro. Clientes passavam em direção ao bar, aos templos, aos prostíbulos, a todo lugar onde houvesse luz. Mas Lyang só almejava a escuridão daquele beco, a única que a abraçava, a única que a deixava invisível aos olhos de todos.
Mas ela ainda seria farejada, sem dúvida seria.
À meia-noite, sinos começaram a bater. A menina, quase dormindo, abriu os olhos vermelhos e espiou o céu. Não havia lua, só estrelas, um monte delas, tochas brancas em um mar de sombras. Os sinos continuaram, mais altos, mais vibrantes, cada vez mais próximos. As janelas das casas se acenderam perante o barulho, pessoas reclamaram.
Lyang ergueu-se sem entender muito bem o que estava acontecendo. Soldados vinham a passos largos com suas vestes feitas de nuvens. Uns seguravam lâmpadas e archotes, outros cassetetes e espadas.
— Tranquem as portas! Ninguém deve ser visto fora de casa! Só abram para os oficiais do Imperador!
Lyang gemeu. Estaria a salvo nas sombras daquele beco? Os sinos batiam, tão apressados quanto o coração da menina. Estariam nervosos também? Estariam com medo?
Lyang sorriu e olhou novamente as estrelas. Tantas luzes, em um mar tão escuro.
— Os fantasmas! O tigre foi morto!
Podia ter gargalhado. Em vez disso, correu, o mais rápido que pôde, o mais longe que pôde. Deixou para trás o dono gordo do bar, as ruas fedidas da gaiola, o cadáver no porão. Desviou das luzes brancas do tigre, sorrindo, sempre sorrindo, em uma noite tão escura.
Não se perdeu em seu trajeto, pois não era possível perder uma muralha tão grande de vista. A cabana estava vazia, nenhum sinal do velho de pernas quebradas — saíra andando, certamente. Lyang dirigiu-se ao poço, um buraco negro como piche. A corda do balde estava ali, pendurada.
Lyang encarou uma última vez a cidade resplandecente. Crianças gritavam, os pais gemiam. Havia fogo em algum canto, suas faíscas douradas voavam como vaga-lumes. Ela tentou compreender o que gritavam, mas estava longe demais. Não importava.
A menina de olhos dourados agarrou a corda e desceu, afogando-se mais uma vez em escuridão. A água podre a deixou enjoada. Ela encheu os pulmões e deixou-se afundar. Não podia lamber os lábios, não podia morrer ainda. Tateou as paredes, sentindo as pedras se desintegrando a seu toque. Encontrou o túnel. E entrou.
A aurora nascia do outro lado da muralha. Lyang saiu do rio como um coelho fedido, os pulmões doendo. Encarou o deserto dourado à frente, as nuvens róseas da aurora, as montanhas azuis no horizonte. Três sombras caminhavam sobre as areias. Lyang as seguiria a qualquer custo.
Ela não ficou surpresa quando as alcançou, nem eles. Seus trajes eram totalmente pretos, a menos pelas máscaras animalescas. O líder, de máscara de javali, tentou engrossar a voz em um primeiro momento, mas Lyang percebeu que era uma mulher. O que tinha máscara de macaco com certeza era o velho de pernas quebradas. E o cachorro parecia um jovem rapaz, só um pouco mais velho do que Lyang, e conversou alegremente com a menina.
Eram fantasmas. Não se importavam com o cheiro de veneno que impregnava seus corpos, tampouco com os gritos e gargalhadas entre seus dentes. Fora da gaiola, o vento afastaria seu cheiro e seus gemidos para longe, para bem longe. O Tigre Branco jamais os farejaria, mesmo se estivesse vivo ainda.
Naquele deserto infinito, a menina de olhos dourados os acompanhou enquanto o sol se elevava diante deles. As máscaras resplandeciam, cada vez mais brilhantes, cada vez mais brancas.
Como uma luz na sombra.
Todos os direitos reservados a Paulo Rogério Moreira da Silva, 2021.
Imagem da Capa: Panachoi_stand via Pixabay
Arte da capa: Paulo Rogério Moreira da Silva
Essa é uma obra de ficção. Nomes, personagens, organizações, lugares e situações são frutos da imaginação deste autor ou usados como ficção.
Qualquer semelhança com a realidade ou fatos reais é mera coincidência.
Todos os direitos reservados.
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