Mão segurando um pequeno relógio branco
Photo by Lukas Blazek on Unsplash

Como escrever sem ter tempo para isso?

10 dicas pra continuar escrevendo, nem que seja como uma tartaruga

Paulo Moreira
6 min readFeb 14, 2021

--

Primeiro lembrete: aqui tenho dicas, não regras. O que funciona pra mim, pode não funcionar pra você, e também nem pra mim dependendo do tempo.

Este texto é pra você que realmente não tem tempo. Tô destacando isso porque sempre surge alguém que diz que escreve milhares de palavras por dia, mesmo, segundo ele, sendo o Julius do Todo mundo odeia o Chris. Tá certo, a síndrome de burnout te aguarda, e não se escreve morto, sabe. Desculpe pelas vírgulas, eu uso muito sem necessidade alguma. Não vamos nos enrolar aqui, afinal, não temos tempo!

A dica mais importante que resume todas as outras é:

Tenha constância

Não importa se você só escreve 10 minutos durante o almoço, ou nos finais de semana, eu nesse caso. O que importa é desenvolver um hábito saudável. E lembrar que esse hábito pode mudar. Se você estiver cansado, não faz mal aproveitar esse momentinho só pra descansar, na verdade faz muito bem.

Analise sua rotina, e não a dos outros. Você se sente exausto depois do trabalho? Não escreve, descansa. Aí você pode dormir logo pra acordar mais cedo e ter um tempinho, nem que seja 10 minutos pra escrita. O tempo do almoço não dá nem pro almoço? Guarda um momentinho no fim de semana. Os filhos são uns pestinhas? Procura por alguém da família ou até mesmo um profissional pra ficar com eles uma vez por semana, uma manhã. Vai comprar pão e passa meia hora na padaria escrevendo, mas lembre de trazer o pão.

E aí que surge o problema: você vai demorar pra escrever. Vai ver as pessoas terminando um conto de 5000 palavras em 2 dias, e eles são realmente bons, e já faz 1 mês que você não terminou a primeira página. Ainda, por não escrever todo dia, o seu conto não tá tão bom assim.

O que posso te dizer? Ignora! Eles são eles. Muitos são privilegiados. Alguns realmente passaram noites em claro escrevendo, se sacrificaram. Mas isso não quer dizer que você tenha que fazer o mesmo — alô romantização do excesso de trabalho, síndrome de burnout falando! Pra isso, ignore mesmo, não tem outra coisa a fazer. Se você for pedir conselhos, tenha em mente que só porque serviram para eles não quer dizer que servirão também para você.

Demorar pra escrever também implica em outro problema: esquecer, ou perder a inspiração, o fio da meada. Simplesmente não gostar mais da história. E é aí que eu vou entrar com as minhas 10 dicas.

1. Escreva

Quando surgir a inspiração ou você sentir que quer começar a escrever: escreva. Mas a gente não tá sem tempo? Estamos no meio do trabalho! Nesse caso, pegue o celular, uma folha, e escreva a ideia apenas, rapidamente. Escreve até na mão. Grava um áudio. Algo assim:

Uma criança vai ser adotada por Medusa.

Só isso. Nada mais. A ideia da história tá salva. Guarde o papel, salve a mensagem. Quando estiver livre, você a trabalha melhor. E eu tenho certeza que se sua ideia foi boa, ela vai ficar cozinhando aí na sua cabeça.

2. Anote Cenas

Teve um tempinho livre de 10 minutos? Coloca num mapa mental:

Começo
Meio
Fim

E especifica só as cenas desses momentos:

Começo: A criança é abandonada
Meio: A criança é cuidada pela medusa
Fim: A criança se vinga dos aldeões que a abandonaram

3. Descanse

Chegou a noite, tá cansado? Descansa. Tenta acordar mais cedo. Se não der, não tem problema.

4. Estruture a História

Quando surgir um tempo livre mais longo, escreva a estrutura da história, do jeito que você quiser. Destaque o que é pra ser destacado: características de personagens, o que tem no cenário, o que você quer passar com a história, imagens simbólicas que surgiram quando a ideia tava cozinhando na sua cabeça… tudo que você não deve esquecer. Use símbolos, setas, desenhos, tudo que faça você escrever mais rápido.

Foi interrompido? Anota: mais tarde trabalhar o físico da medusa! Ou, mais tarde trabalhar o cenário que deve ser sombrio. E volte às suas obrigações.

5. Salve tudo em lugares acessíveis

Quando já tiver a estrutura da história, salve-a em todos os cantos possíveis para uma fácil consulta. Eu tiro foto e mando pro telegram. Assim posso olhar de vez em quando no celular pra não esquecer. E se sentir que algo não foi bem trabalhado, mando mensagem pra mim mesmo, trabalhe melhor isso.

6. Descubra seu tempo pra se adaptar à escrita

Tem 30 minutos livre? Agora sim dá pra escrever. Ou não. Cada um tem seu tempo pra se habituar ao cenário de escrita. Leve isso em consideração. 30 minutos livres não é 30 minutos de escrita, pode ser 10 de descanso, 10 à procura de força de vontade, e 10 de escrita em si. Lembre-se, rotina diminui as preliminares.

Mas quando surgir esses 30 minutos, só escreva o que vier na cabeça. As cenas já estão salvas pra você consultar, assim como o que deve conter em cada cena. Não se importe com concluí-la ou embelezá-la. Só escreva. Se for interrompido, novamente, anote o que você precisa fazer depois. Pode ser: a cena a seguir vai ser o menino chorando, ou esqueci de descrever a caverna da medusa, ou adicionar algo repulsivo. Mais tarde, você faz as alterações.

7. Não se importe em pular cenas

Na correria, você pulou uma cena? Escreva assim que lembrar ou coloque uma nota onde ela deve estar no texto. Eu faço como aquelas de rodapé, aqui tem tal cena antes. Num tempo livre, você escreve a cena esquecida e encaixa ela em seu devido lugar.

8. Dê beleza ao texto

Você concluiu todas as cenas da história. Isso significa que acabou? Não. Agora você deve polir as palavras, trabalhar os detalhes. Ordenar textos escritos no papel, celular, áudio, jornal, ou seja lá onde você teve que escrever.

Com todas as dicas dadas aqui, seu texto vai ficar parecendo um quebra-cabeças. A edição será a montagem. Isso não é um problema, desde que entenda sua letra e símbolos, tá tudo bem, ou use números pra ordenar as cenas.

Essa pode ser a parte mais demorada. Por isso, faça em algum momento que você sabe que não vai se distrair. Eu sempre reservo meia hora à noite por causa do silêncio, digo à noite porque não tenho uma hora específica, sempre pode surgir imprevistos. Você pode separar 10 minutos por dia só pra ordenar as coisas. O que importa aqui é não ter distração. Como eu escrevo no papel, telegram, whatsapp e aplicativos de notas, quando vou digitar pro PC já vou polindo e filtrando muita coisa.

9. Descanse seu texto

Agora acabou mesmo. Pode deixar o texto descansar. Volte a sua vida, faça de novos os planos pra um novo conto ou capítulo, esqueça o antigo. Mais tarde você o relê como uma leitura despreocupada, encontra erros de digitação, de ortografia, problemas de narração que surgiram com um copiar e colar. Vai anotando todos esses detalhes em algum canto pra editar quando sobrar tempo.

10. Não se compare aos outros

Lembra que eu disse que essas dicas não são pra você escrever mais rápido? Pois é, não são. São para você conseguir manter o hábito da escrita e não se esquecer das coisas. Não compare seu tempo aos outros, nem os resultados dos outros com os seus. Não siga dicas que você sente que só vão te frustrar ou te deixar tremendamente exausto. Desenvolva sua rotina de escrita com base nas suas ocupações. Os outros são os outros.

Você pode descansar sim. Você deve descansar pra manter sua saúde.
Fui bem mórbido, mas é verdade: mortos não escrevem.

11. Porque essas dicas merecem uma extra

Mais um detalhe: vida de escritor não é só escrever, tem pesquisa também. Pra quem não tem tempo, essa pesquisa tem que ser rápida e específica. Se você quer saber sobre como usar uma besta, procure apenas isso, nada de ficar lendo artigo de cimitarras e katanas.

Use a função de acelerar vídeos no YouTube e não vá clicando em todo vídeo que aparece — o mesmo vale para os posts das várias redes sociais. É mais útil e rápido ver um vídeo do Brandon Sanderson de como usar a jornada do herói do que 20 vídeos diferentes sobre a jornada do herói. Vá salvando em favoritos todos os links de propriedade, que você confia, pra não ficar perdendo tempo com pesquisa.

--

--

Paulo Moreira

Brazilian pharmacist in loved with History, Fantasy and Ecofiction. Author of The Blood of the Goddess. I write about nature in poems and fantasy stories.