Babel
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Oh, o que dizem de Babel? Que as torres são de ouro e os jardins, de diamantes!
O que dizem de Babel? Que o rei é eterno e os filhos, duas estrelas!
Que as paredes dos templos são feitas de sol. Que os salgueiros derramam lágrimas em rios de prata. Que a carne dos homens é feita de barro, e o vitae arde em suas veias de luz, é o que dizem!
Mas não há nada.
Nada.
O que era ouro é poeira sob minhas pernas! Onde estão as pirâmides dos sacrifícios? O palácio dos julgamentos? Onde está o rei que era eterno?
Há um túmulo, há um túmulo no meio das areias! E o que faço, o que posso fazer? Rastejo seco, os joelhos quebrados. O sol há muito me deixou. Mas eu vejo, eu vejo o túmulo, reluzindo em meio à escuridão, duas estrelas sobre ele!
Está aberto, eu sei que está. Há algo ali, eu sei que há. As luzes chamam, chamam igual a duas crianças!
Oh, por Deus! São apenas crianças!
Brilham, brilham, mas onde está seu coração?
Há algo gemendo no túmulo, o que é? Ah, Deus, não me permita saber! Há algo gemendo ali, eu juro.
E as crianças, elas chamam.
Sorriem.
Babel, Babel, quem és tu? O que rasteja em teus palácios ofegante como um idoso? De quem é essa voz asmática que sibila? Crianças, vocês sabem?
Por Deus, pobres crianças sem coração! Elas sabem, sabem de tudo. E ainda sorriem! Sorriem enquanto ele vem, o braço dele cheio de sangue. Vem sem pressa, direto para mim, direto para o meu coração.
Texto elaborado em 16 Nov. 2020, inspirado no horror cósmico de Lovecraft e nos jogos Amnesia: The Dark Descent e Amnesia: A Machine for Pigs.